Pouco se fala dela, mas existe uma força silenciosa sob nossos pés. A energia que vem das profundezas do planeta, calor que já move usinas, aquece lares e pode impulsionar o futuro das cidades. Energia geotérmica, uma fonte limpa, constante, bastante subestimada no Brasil. Neste guia, vamos mostrar, em detalhes e sem rodeios, o que é essa fonte, suas origens, caminhos de investimento e como ela pode, talvez, transformar parte do nosso cenário energético.
O que é energia geotérmica?
Sua origem não tem mistério algum: o calor do interior da Terra. A crosta é fina, comparada ao núcleo incandescente. O calor ali é tão intenso que pode ser captado em diversas camadas, desde zonas rasas até reservatórios profundos. Esse calor, às vezes, escapa como vapor por vulcões, fontes termais, gêiseres naturais. O que fazemos, ao explorar a geotermia, é capturar e aproveitar essa energia que a Terra oferece há bilhões de anos.
Uma fonte de energia que nunca dorme.
A tecnologia permite converter esse calor em energia útil. Sistemas geotérmicos se dividem em dois grandes grupos: aquecimento e geração de eletricidade. Para eletricidade, são usadas usinas que captam vapor ou água quente subterrânea para mover turbinas. Para aquecimento, a água quente é circulada em tubulações para residências, indústrias e estabelecimentos.
Como funciona uma usina geotérmica?
A lógica é simples: acessar reservatórios subterrâneos de água e vapor superaquecidos, a diversas profundidades, por meio de perfurações. O vapor liberado na superfície move turbinas, que por sua vez acionam geradores de eletricidade.
- Sistemas de vapor seco: Usam vapor diretamente do reservatório para acionar turbinas, sendo os mais antigos e raros.
- Sistemas flash: Utilizam água muito quente; a pressão diminui ao subir, formando vapor para mover turbinas.
- Bínario: Ideal onde a temperatura é mais baixa, usa um líquido secundário que evapora a menor temperatura e aciona a turbina.
Além disso, sistemas de bombas de calor geotérmicas são usados em residências, aproveitando a temperatura constante do subsolo para aquecer ou resfriar ambientes.

Contexto global: onde a energia do subsolo já é realidade
Países como Islândia, Filipinas, Itália, Turquia e Estados Unidos conseguiram avançar graças à combinação de potencial geológico, políticas públicas e investimento. A Islândia, talvez o mais emblemático, cobre quase 90% de sua demanda de aquecimento com energia subterrânea. Mas mesmo países de menor potencial, como Alemanha e Japão, buscaram formas inovadoras de usar a fonte.
Hoje, a geração elétrica mundial por fontes geotérmicas já passa dos 15 GW. O que parece tímido comparado ao solar ou eólico, mas trata-se de uma geração constante, diversa das intermitências típicas das outras renováveis. O cenário internacional inspira: integração entre fontes limpas, apoio governamental e incentivos ao desenvolvimento tecnológico.
Energia geotérmica no Brasil: potencial, mitos e contexto atual
O Brasil, tradicionalmente rico em recursos naturais, ainda não despertou plenamente para o calor do subsolo. Segundo o Balanço Energético Nacional, as contribuições de energia de solo e águas subterrâneas à matriz nacional ainda são residuais frente às fontes hídricas, biomassa e eólica.
- Zonas como o Vale do Rio Grande do Norte, a Bacia do Paraná e áreas do Nordeste apresentam anomalias térmicas promissoras.
- Fontes termais naturais existem em Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo, mas sua exploração é limitada, restrita a balneários e aquecimento de piscinas.
- A geologia nacional não favorece grandes depósitos como na Islândia; mas existe potencial significativo para aplicações de aquecimento, secagem de grãos, usos industriais e pequenos sistemas de geração descentralizada.
Desafios naturais e de regulação
É verdade, o Brasil não tem vulcões ativos. Mas isso não inviabiliza totalmente o uso da água quente do subsolo. O obstáculo técnico maior está em identificar reservatórios com vazão, pressão e temperatura adequadas para geração elétrica de médio porte.
Do lado regulatório, há barreiras. A legislação brasileira ainda carece de especificidade para exploração de projetos geotérmicos em larga escala. Licenças ambientais e outorgas para perfuração e uso da água seguem regras pensadas para outras fontes.
Há fogo sob nossos pés – falta visão para enxergá-lo.
Quem quiser investir precisa de clareza jurídica e processos menos burocráticos. Estudos técnicos detalhados, amparo regulatório e incentivos diretos mudariam todo o quadro.
Benefícios ambientais e sinergias com outras fontes limpas
Aplicar energia do subsolo na matriz brasileira traria vantagens ambientais sólidas. Projetos geotérmicos têm emissões quase nulas de gases de efeito estufa, uso eficiente do solo e baixa necessidade de água adicional.
A grande sacada está na integração. Sistemas híbridos podem combinar projetos solares, eólicos e geotérmicos, suavizando variações de produção e tornando a energia limpa mais confiável e disponível.
- Prédios residenciais ou comerciais com bombas de calor reduzem a demanda por eletricidade vinda da rede convencional.
- Indústrias que dependem de calor, como a de alimentos, podem usar fontes subterrâneas para secagem e processos térmicos, evitando queimadas de lenha ou consumo de gás.
- Em áreas rurais, a secagem de grãos com água térmica subterrânea reduz custos e impactos ambientais.
Alguns caminhos possíveis e já testados (fora do Brasil) são detalhados em nosso guia completo sobre renováveis.

Panorama de investimento: oportunidades e caminhos
O investidor atento sabe – mudanças lentas podem revelar as melhores oportunidades. O setor geotérmico brasileiro está praticamente em “território virgem”. Existem algumas frentes promissoras:
- Aplicações locais e regionais: Pequenos sistemas de aquecimento de água em hotéis, hospitais e escolas podem ser muito vantajosos em cidades com fontes termais.
- Usinas de ciclo binário de pequeno porte: Ideais para regiões com temperaturas abaixo do ideal, mas ainda aproveitáveis. Requerem capital e estudo geológico aprofundado.
- Indústria de alimentos e bebidas: Precisa de calor de processo. Sistemas térmicos de subsolo podem substituir caldeiras a gás ou biomassa.
- Agronegócio: Secagem de grãos, aquecimento de estufas, piscicultura com águas quentes, usos múltiplos.
A sinergia entre geotermia e tecnologias de inovação do setor de energia, como sensores avançados de monitoramento, inteligência artificial e mapeamento via satélite, cresce a cada ano. Inclusive, empresas do setor de óleo e gás já conseguem aproveitar parte do que aprendem em poços e geofísica para desenvolver projetos geotérmicos. Nos Estados Unidos, isso já ocorre e, no Brasil, vemos movimentos iniciais nessa direção.
O papel da pesquisa e política pública
O apoio a pesquisas é determinante. Projetos-piloto, parcerias com universidades, estímulo a startups e recursos de fundos climáticos podem destravar o desenvolvimento do setor. Programas como o Fundo Clima, detalhados em nosso guia de financiamento sustentável, também servem de modelo.
Segundo o levantamento histórico da EPE, o consumo brasileiro de energia renovável cresce ano após ano. O país já é referência em energia verde, mas a diversificação, com a entrada da geotermia, ampliaria segurança e capilaridade do sistema.
Custos, avanços tecnológicos e viabilidade econômica
Muita gente imagina que projetos geotérmicos são sempre caros. Nem sempre é assim. O custo depende, principalmente, do tipo de projeto:
- Exploração com perfuração profunda: alto custo inicial, mas baixo custo de operação/manutenção.
- Sistemas de bombas de calor para aquecimento: instalação moderada, rápida amortização em regiões frias.
- Usinas binárias compactas: investimento intermediário, bom para municípios ou empresas de médio porte.
Numa visão global, o valor do MW instalado pode variar bastante, mas a durabilidade dos projetos (usinas funcionam por 30-50 anos) e o custo quase nulo do combustível (o próprio calor terrestre) compensam o aporte inicial. Existem, inclusive, linhas especiais de crédito em bancos nacionais e regionais, assim como incentivos para inovação que podem ser utilizados por investidores atentos.
O Centro Brasileiro de Energia Solar acompanha de perto as tendências do setor geotérmico, apoiando empresas, investidores e governos interessados em ampliar o horizonte das energias limpas no Brasil.

Desafios reais e o futuro da matriz energética nacional
Falando francamente, não é do dia para a noite que a energia subterrânea ocupará grandes fatias da matriz nacional. Mas ela pode ser fundamental para aplicações descentralizadas, diversificação e melhoria da segurança energética, especialmente diante de mudanças climáticas e períodos de escassez hídrica.
- Pode reduzir emissões, complementando hidrelétricas e renováveis intermitentes.
- Amplia a oferta de energia em zonas rurais e pequenas cidades.
- Fortalece o ecossistema de inovação energética brasileiro.
Se somarmos os avanços tecnológicos, políticas de incentivo e a expertise que o país já tem com energias renováveis (detalhada nas contas ambientais e de biomassa do IBGE), há espaço para a energia do subsolo crescer.
Para o investidor, o segredo está na escolha do nicho, inovação e buscar parcerias. A procura por oportunidades de investimento inteligente no setor de energia nunca foi tão estratégica. E, nesse movimento, olhar para baixo, literalmente, pode trazer retornos surpreendentes.
Considerações finais: diversificar é fortalecer
Energia subterrânea, calor que não depende do sol, nem do vento, nem do regime de chuvas. Sua força está em ser constante, silenciosa, sempre presente. O Brasil talvez não se torne uma Islândia tropical, mas pode criar soluções únicas a partir do nosso próprio solo e das nossas necessidades.
Só diversifica quem enxerga valor no que a maioria ignora.
O Centro Brasileiro de Energia Solar acredita no caminho da inovação estratégica. Nosso propósito é apoiar parceiros, empresas e investidores a ampliar o acesso à energia limpa, tornando projetos sustentáveis mais acessíveis e rentáveis. Conheça melhor nossos serviços, descubra novas oportunidades e vamos, juntos, transformar o cenário da energia renovável no Brasil.
Perguntas frequentes sobre energia geotérmica
O que é energia geotérmica?
É a energia proveniente do calor natural armazenado no interior da Terra. Pode ser aproveitada para aquecimento direto ou geração de eletricidade, usando o vapor ou água quente subterrânea para acionar turbinas e produzir energia elétrica ou para atividades como aquecimento de ambientes, secagem de grãos e uso industrial.
Como investir em energia geotérmica no Brasil?
O primeiro passo é identificar áreas com potencial para uso do calor subterrâneo, especialmente regiões com águas termais ou anomalias geotérmicas. Investir pode significar desde projetos-piloto de aquecimento local, participação em consórcios para geração de eletricidade ou aplicação no agronegócio. É preciso contar com análises geológicas, estudos de viabilidade e buscar incentivos públicos e privados, como os disponíveis através de fundos climáticos e programas de inovação.
Quais as vantagens da energia geotérmica?
Ela oferece fonte limpa, praticamente sem emissão de carbono, uso eficiente do solo e produção estável, sem depender de variáveis climáticas. Permite integração com outros sistemas limpos, vida útil longa e baixo custo operacional. Também fortalece a segurança energética e descentraliza o fornecimento de energia.
Quanto custa um projeto geotérmico?
O custo varia conforme o tipo, profundidade do reservatório e aplicação. Sistemas residenciais de bomba de calor têm custo acessível e retorno rápido. Usinas geotérmicas para geração elétrica têm custo inicial mais alto, principalmente devido à perfuração, mas o combustível é “gratuito” e a manutenção é baixa. Projetos industriais e agrícolas ficam em faixa intermediária. O investimento deve sempre ser calculado considerando a demanda local, incentivos e tempo de vida útil.
Onde encontrar empresas de energia geotérmica?
Empresas e consultorias especializadas nesse tipo de energia podem ser encontradas em polos de inovação, universidades ou hubs de energia limpa como o Centro Brasileiro de Energia Solar, que promove soluções, assessoria e conexão entre investidores, integradores e parceiros do setor de energias renováveis. É importante buscar orientação e informações atualizadas antes de investir em projetos geotérmicos.
Para aprofundar ainda mais o tema dos créditos e incentivos verdes, confira nosso guia de créditos de carbono para empresas e investidores.